quarta-feira, março 31, 2010

Divulgando

Programão recomendado pro primeiro de abril... estando na região, nao deixe de acompanhar.

domingo, março 21, 2010

Promessas que nao podem ser cumpridas

Tenho um amigo....e quem não tem?
É daqueles que parece que veio comigo no útero.. tipo, acoplado pra viagem e etiqueta com meu nome e me acompanha por mais de 15 anos. Um mala, mas muito querido, daqueles que chega na minha casa, abre a geladeira e tira o sapato pra em seguida fuçar o meu notebook.
Vivemos os melhores e os piores momentos de nossas vidas juntos. Noites de inverno congelante numa CG125 pelas rodovias desertas e uma sacola plástica de latinhas de cerveja pra beber na escuridão olhando as luzes da cidade.
Pra quando ele nao tinha dinheiro pro cigarro, nós tinhamos os meus.
Pra quando eu estava desempregado, ele bancava as cervejas baratas.
Pra ver o campo de trigo ao vento.
Pra ver o céu cravejado de estrelas deitados no asfalto.
Pra ver o melhor entardecer do pais de horizonte amplo a beira de um lago gigante e espelhado.
Pra fumar o primeiro beck e aguentar o mau humor depois.
Pra aquele abraço no dia de tristeza perante uma cova de cemitério.
Pra ser o primeiro numero de celular que era chamado sempre.
Os caminhos se distanciaram um pouco, cada um seguiu um rumo, mas estranhamente quando nos encontramos é como se o período de meses sem contato fossem apenas algumas horas.
Eu ja estranhando o desaparecimento, apenas aguardava o reaparecimento com as habituais longas conversas com o relato das aventuras...... O reencontro foi prenunciado da breve frase no Orkut: "tive más coisas acontecendo..."
Depois de varias doses de vodka e um suco de frutas vagabundo, veio a apreensão de que certos sintomas de saúde nao estavam muito bons.... Um exame de sangue havia sido feito, porém o laboratório o havia chamado pra nova coleta alegando-se algum tipo de erro.
Sintomas suspeitos, comportamento de nova coleta suspeito, ninguém revelava uma informação complementar sequer, nova amostra colhida e num acesso de rapidez, um papel sequestrado do enfermeiro dizia HIV... ele tenso desabafava seus medos do meu lado... eu já com as lágrimas escorrendo enquanto mantinha o discurso de que tudo estaria bem, que enganos acontecem, que isso nunca haveria de acontecer.
Nos despedimos num abraço mais forte do que o normal, mais irmão do que nunca, com lagrimas mais presas do que nunca. A promessa foi de que aquela conversa seria esquecida depois de um porre homérico a ser tomado juntos num futuro próximo.
Ele retornou ao seu estado e fiquei perguntando por notícias através de um site de relacionamento, durante a semana fui recebendo noticias de que nao havia notícias ainda.
No final da semana, o telefone tocou. Era outro amigo forte, que quebrado naquele momento dizia sobre a perda da mãe dele, e depois das informações habituais sobre condolências e cerimonias, ao desligar, notei o celular com um SMS ainda não lido.
"... recebi más notícias...."
Foi a unica coisa que consegui ler.
Meu mundo rodopiou e chorei as lágrimas presas por dias, por sorte num escritório vazio de gente, de informação e de chão... Todas as cores habituais de um final de dia e de semana se desvaneceram e tudo se tornou cinza, num filme interminável de acontecimentos ruins que costumeiramente nos seguem exatamente nos dias em que menos podemos suportar a carga. Toda a dor veio, nao por aquilo que tinha acontecido, mas exatamente como as coisas passariam a ser a partir daquele momento e pelo resto dos dias. Tenho um péssimo hábito aquariano de chorar pelo futuro, talvez por sempre saber o quão dificil ele pode vir a ser num curto espaço de tempo. Talvez por conhecer o demais mundo e dos seus edemas, e de suas pessoas.
Depois de algum tempo, a unica coisa que consegui escrever de volta, foi que nada mudaria... nem minha admiração, carinho e respeito por ele. Nada muda pra mim, acredito ter sido a única coisa capaz de ser transcrita em tão poucas palavras e que significasse tão precisamente pra aquele momento.
As cores voltarão, assim como as noites frias, as estrelas, o chão de asfalto, o lago espelhado ao entardecer, porém o que mais me dói é saber que algumas vezes, aquelas promessas que mais queríamos atender, nem sempre podem ser cumpridas.