domingo, agosto 09, 2009

Dia do pai

Juro que pensei carinhosamente sobre postar algo sobre o dia dos pais.... mas essa é uma figura absolutamente ausente na minha vida. Tenho vagas lembranças de meu pai, e quase todas são ruins, de momentos em que um homem usava da força pra se conquistar respeito. Educação alemã, menos diálogo e mais força sempre, único remédio possível pra se compensar a falta do caráter, no fundo apenas reproduzindo a educação recebida de um pai tão ausente que nem sequer figurava no RG dele. Uma pena, isso tudo vindo de alguém tão rico culturalmente; caso de ferreiro, o espeto é de pau.
Recordo-me adolescente, a morte sofrida ocorrendo as 23 horas encerrando um ciclo frente aos meus olhos... Velório em casa conforme hábito do passado, imagens de pessoas entrando e saindo, a vizinha madrugadeira desejando-me pêsames pela primeira vez num mecânico estender de mãos que se repetiria inúmeras vezes naquele dia, os colegas do colégio que apareceram de surpresa com cara de assustados com o mais novo orfão do pedaço, o sepultamento ritualístico, a chuva que caiu enquanto eu caminhava sozinho pra casa e as primeiras lágrimas, que se misturaram com a chuva...Crying in the rain, mas eu nem sequer falava inglês nessa época.
Mais de 20 anos depois numa conversa com minha irmã fui descobrir que o choro tinha um significado absolutamente inesperado.... Não era a tristeza por alguém supostamente importante que partia, mas sim uma profunda decepção por não ter tido o que eu gostaria, que a presença paterna ali tinha sido sepultada em definitivo, e que todas as chances que houveram no passado nao foram aproveitadas, um vazio haveria de continuar sendo vazio. A vida seguiria.. e seguiu.
Enfim... nada é como pensávamos um dia.. Será que um dia pode vir a ser?

3 comentários:

  1. gosto do seu blog, parabéns por dividir um pouco de 'voce' com os 'outros'. Emocionante tambem este ultimo post
    grande abraço

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  2. pior é tê-lo vivo, mas ser como se fosse morto.

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  3. Você sabe qual a minha crença religiosa e acredito sim que no futuro teremos oportunidades para realizar coisas que não pudemos fazer nessa vida.
    De qualquer forma, embora eu te conheça há pouco tempo, eu pude te conhecer muito bem. E por isso acho que quando seu pai te olha, de onde ele estiver, tem orgulho da pessoa de caráter que seu filho se transformou.
    Forte abraço!

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