sábado, janeiro 31, 2009

Voce está despedido!

Você é diretor de uma indústria de geladeiras. O mercado vai de vento em popa e a diretoria decidiu duplicar o tamanho da fábrica. No meio da construção, os economistas americanos prevêem uma recessão, com grande alarde na imprensa. A diretoria da empresa, já com um fluxo de caixa apertado, decide, pelo sim, pelo não, economizar 20 milhões de dólares. Sua missão é determinar onde e como realizar esse corte nas despesas.
Esse é o resumo de um dos muitos estudos de caso que tive para resolver no mestrado de administração, que me marcou e merece ser relatado. O professor chamou um colega ao lado para começar a discussão. O primeiro tem sempre a obrigação de trazer à tona as questões mais relevantes, apontar as variáveis críticas, separar o joio do trigo e apresentar um início de solução.
"Antes de mais nada, eu mandaria embora 620 funcionários não essenciais, economizando 12 200 000 dólares. Postergaria, por seis meses os gastos com propaganda, porque nossa marca é muito forte. Cancelaria nossos programas de treinamento por um ano, já que estaremos em compasso de espera. Finalmente, cortaria 95% de nossos projetos sociais, afinal nossa sobrevivência vem em primeiro lugar". É exatamente isso que as empresas brasileiras estão fazendo neste momento, muitas até premiadas por sua "responsabilidade social".
Terminada a exposição, o professor se dirigiu ao meu colega e disse:
-Levante-se e saia da sala.
-Desculpe, professor, eu não entendi - disse John, meio aflito.
-Eu disse para sair desta sala e nunca mais voltar. Eu disse: PARA FORA! Nunca mais ponha os pés aqui em Harvard.
Ficamos todos boquiabertos e com os cabelos em pé.
Nem um suspiro. Meu colega começou a soluçar e, cabisbaixo, se preparou para deixar a sala. O silêncio era sepulcral.
Quando estava prestes a sair, o professor fez seu último comentário:
-Agora vocês sabem o que é ser despedido. Ser despedido sem mostrar nenhuma deficiência ou incompetência, mas simplesmente porque um bando de prima-donas em Washington meteu medo em todo mundo. Nunca mais na vida despeçam funcionários como primeira opção. Despedir gente é sempre a última alternativa.
Aquela aula foi uma lição e tanto. É fácil despedir 620 funcionários como se fossem simples linhas de uma planilha eletrônica, sem ter de olhar cara a cara para as pessoas demitidas. É fácil sair nos jornais prevendo o fim da economia ou aumentar as taxas de juros para 25% quando não é você quem tem de despedir milhares de funcionários nem pagar pelas conseqüências. Economistas, pelo jeito, nunca chegam a estudar casos como esse nos cursos de política monetária.
Se você decidiu reduzir seus gastos familiares "só para se garantir", também estará despedindo pessoas e gerando uma recessão. Se todas as empresas e famílias cortarem seus gastos a cada previsão de crise, criaremos crises de fato, com mais desemprego e mais recessão. A solução para crises é reservas e poupança, poupança previamente acumulada.
O correto é poupar e fazer reservas públicas e privadas, nos anos de vacas gordas para não ter de despedir pessoas nem reduzir gastos nos anos de vacas magras, conselho milenar. Poupar e fazer caixa no meio da crise é dar um tiro no pé. Demitir funcionários contratados a dedo, talentos do presente e do futuro, é suicídio.
Se todos constituíssem reservas, inclusive o governo, ninguém precisaria ficar apavorado, e manteríamos o padrão de vida, sem cortar despesas. Se a crise for maior que as reservas, aí não terá jeito, a não ser apertar o cinto, sem esquecer aquela memorável lição: na hora de reduzir custos, os seres humanos vêm em último lugar.

Stephen Kanitz

Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1726, ano 34, nº45, 14 de Novembro de 2001.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Constatação

Após vários dias sem bater o cartão adequadamente na internet, hoje fui colocar minhas leituras dos blogs em dia... Tinha mais de 1000 posts pra ler, mas foi incrivelmente deprimente o ar de desgaste presente na maioria deles... Parece que uma nuvem negra de desamparo generalizado se abateu pela maior parte da blogosfera....
Sempre tive a tendência de leituras realistas, de blogueiros pé no chão, mas hoje foi uma bolada no estômago....Será consequência ainda da crise?
Aliás... a crise realmente existe ou estamos todos numa bolha de rumores que se transformaram em realidade? Tenho ainda minhas dúvidas.
 

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Billy Elliot

Ok, lá vou eu falar de filmes de novo... nada de novo pra registrar.. aliás, até tem novidades, mas falta a paciência de gerar o texto com a devida sensibilidade....
Acabei vendo Billy Elliot hoje de novo. Sempre curto o desenrolar da história e o final leve e emocionante. Tudo politicamente correto, a vitória da razão sobre o preconceito, mas sempre gosto quando a família passa a apoiar o garoto dançarino em meio a crise do Reino Unido nos anos 80. Interessante o posicionamento da narrativa no tempo e espaço, com homens embrutecidos pela pobreza e pelas dificuldades da ocasião nas greves e lutas de classes. Deliciosa a mudança do comportamento dos homens da casa que antes criticavam brutalmente. Observe no video a seguir a emoção do pai quando da entrada do filho no palco.....


sexta-feira, janeiro 16, 2009

Donnie Darko




Tenho dezenas de filmes que ainda não assisti e que vou reservando-os para oportunidades como a da noite passada, de insônia. Deparei-me com Donnie Darko e achei que seria uma boa diversão relax para um adormecimento posterior, "vamos ver o que acontece - surpreenda-me!"


Conceitos de metafísica, viagem no tempo, efeitos especiais, esquizofrenia e a certeza de que o fim nao seria dos mais previsíveis. Elenco classe B (na época) de sub-celebridades que viraram apostas garantidas em poucos depois, filme de pouca divulgação e pouco objetivo comercial, pré-requisitos completos para um filme cult. Acertei Alessandro?


Spoiler? aqui não. Assista voce e decida se gostou ou não. Estou na dúvida até agora....

Quem fala o que não precisa.....

Alguns amigos mais próximos sabem da minha situação de transição profissional, em busca de uma nova colocação, atividade muito chata, instável em que voce fica exposto, de certa forma, a muita coisa desagradável. Dois fatos me chamaram atenção nos últimos dias de maneiras distintas, mas cada um deles teve sua parcela de absurdo e estarrecimento.
Existem grupos dentro das listas de grandes servidores de distribuição de informações de vagas que os contratantes publicam alí as vagas e todos os inscritos recebem esses emails com as ofertas. Isso não impede que outras opiniões pessoais sejam publicadas e julgadas por mais de 5.000 pessoas. Um dos grandes motivos dessa lista de discussão, é o fato de alguns empregadores verificarem se seus candidatos tem pendências financeiras e eventualmente serem declinados. Certa pessoa nesta semana comentou que devedores e inclusos no SPC são criminosos, desorientados e que empresas contratantes devem realmente não contratar pessoas assim. Tive o mesmo sentimento da grande maioria dos assinantes, de revolta. O que voce faz com seu dinheiro, se voce paga suas dividas, ou se voce procura um emprego porque precisa dele pra pagar suas dívidas, é problema pessoal seu, não devendo isto ser levado contra seu desempenho profissional. Isso não concede o direito a pessoas julgarem dessa maneira tão leviana e tão discriminatória sobre suas necessidades, diminuindo assim a auto estima de quem já está com a corda no pescoço e lutando pra manter a cabeça fora d'agua. Crime na verdade é o da pessoa que julga assim e ainda publica, influenciando outras mentes fracas.
Outra situação estranha foi uma oferta de emprego que recebi, tipo assim, sem processo seletivo, empregão.... o alerta já soava que tinha algo errado com a coisa. Depois através de telefonemas e confirmações, a informação era falsa.... Bem que o desconfiômetro alertava que tinha uma segunda intenção por trás disso: Sexo...
O mundo não é mais o mesmo.... as pessoas sim.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Guerra local

Sempre lidei bem com a diversidade humana, com os gostos pessoais e as referências que cada um carrega consigo, sempre sem julgamento se eram gays, lésbicas, negros, caucasianos, orientais, gordos, magros, drogados, católicos, protestantes... sempre respeitando as opções e decisões alheias.... Descobrir um nazista foi além da minha compreensão....
Concordo que Israel pisou feio na bola no conflito da Faixa de Gaza contra os Palestinos e a participação do Hamas, mas nao consigo entender um brasileiro do outro lado do mundo professando suas crenças raciais baseado em algo tão brutal e burro como foi o nazismo, provado através do curso da história e da falência desse ideal dizimador e injusto quando milhões pederam suas vidas sob o jugo alemão do Reich. Ser descendente direto de alemães talvez tenha causado alguma simpatia por afinidade no tal cidadão, que pensou ter visto em mim um aliado...Ledo engano.
Noite quente, lencóis quentes, janelas escancaradas em busca da brisa noturna que nao chega nunca...
 

domingo, janeiro 11, 2009

Herois Invertidos

Vendo a última minissérie da Globo, Maysa, estranhei o fato do enaltecimento de uma mulher alcoolatra, rebelde, amoral, deprimida, má esposa, mãe ausente e suicida potencial que se destruiu na Ponte Rio Niterói.
Lembrei de Ronaldo, de origem humilde, esportista fora forma, ego afetado que teve seu auge no futebol europeu e foi declinado, recebido no Brasil sob uma saraivada de fotógrafos pra mais um reinício que será curto como os anteriores.
Heróis destruidos, exemplos de erros de conduta social notórios por quebrar regras de comportamento numa sociedade que justamente valoriza isso, os erros. Fiquei confuso. Pensei numa conversa que tive uma vez com um cientista que morava na Dinamarca, pesquisador do DNA humano buscando alternativas de cura do ser humano através de pesquisa nos ribossomos com avanços no tratamento do câncer e perguntei o que o levou a trabalhar com pesquisa lá. Resposta óbvia: falta de reconhecimento e falta de investimento brasileiro. Ele era praticamente um anônimo com uma possibilidade gigantesca de ajuda ao brasileiro, mas que acabou partindo pois aqui não sobreviveria.
Big Brother Brasil vem ai novamente, com uma nova dúzia vazios oferecendo o que eles tem de melhor para milhões de pessoas: NADA. Tudo isso em busca de se tornarem celebridades, nem que seja por 15 minutos de fama e uma vida inteira de ostracismo ridicularizado. E pensar que tem gente que gosta.
Eu não... Graças a Deus.....
 

terça-feira, janeiro 06, 2009

Concertos para a juventude

O ano é 1.984.
Tínhamos no colégio aulas ainda remanescentes do regime militar tipo Educação Moral e Cívica, Organização Social Político Brasileira e Arte Musical... essa última, era uma verdadeira paulada na axila de tão chato que era. Dona Thammy (acho que esse era nome artístico dela) se esmerava na sua insistência em nos introduzir (adolescentes irriquietos e cheios de espinhas) nos mistérios do mundo da música clássica, da qual tínhamos verdadeira aversão. Tínhamos a cabeça já viciada nos clichês da sociedade da época que dizia que música clássica era artigo de luxo, somente acessivel para as classes abastadas. A professora, resolveu radicalizar trazendo Mozart até nossos ouvidos, depois Ketelbev, depois Vivaldi e ainda teve a coragem de nos pedir o impossível: que ouvíssemos a obra que era reproduzida num moderno micro system (na verdade parecia um macro system de tão grande que era) e colocássemos no papel o que sentíamos. Era meu primeiro relatório da vida, e ainda mais, uma coisa impossível de ser transcrita por um adolescente, o que uma musica provocava em mim.... Me recordo ter escrito algumas bobagens do tipo "se sinto numa nuvem e muito calmo... acho que posso dormir aqui na carteira"... Não sei se era isso que Dona Thammy queria ler na minha página, mas enfim, foi o que deu... pelo menos a tarefa foi cumprida.
Então ela nos apresentou Johann Sebastian Bach, com Jesus alegria dos homens, e não é que me deu uma simpatia pela coisa? Simpatia nada, a partir daquela data Bach passou a fazer parte integral de meus gostos musicais, ocupando um espaço considerável a despeito do que as outras pessoas diziam ser culto demais para meus padrões. Ultimamente tenho me deleitado ao som do Chello Suites de Bach, especialmente o número 1, mas que infelizmente é curta demais (tá bom, sei que tá passando nos intervalos do Telecine Cult). Também com a série dos Concertos de Brandeburgo, cuja pérola máxima, deixo aqui pra alegrar a noite com muita, mas muita musicalidade do Concerto do Brandeburgo No 3, meu preferido.


segunda-feira, janeiro 05, 2009

Bandido morreu

Coisas do interior de São Paulo.
O touro Bandido morreu, ganhou reportagem na TV, sepultamento de celebridade, 4 clones, 2.000 amostras de sêmem, estátua, homenagens e um memorial. Breve teremos o movimento de canonização e nao me assusto se surgir o beato Bandido. É, realmente coisas importantes merecem destaque... e estamos em crise econômica mundial. Viva a imprensa livre... e idiota.
 

domingo, janeiro 04, 2009

Amor demais


Amor é lindo, deixa as pessoas felizes certo? Sim, apenas quando correspondido. Ele tambem machuca, deixa as pessoas sem a noção do que é certo ou mais adequado de ser feito quando ela não existem no sentido contrário levando homens e mulheres às raias da loucura beirando a insanidade completa. O que me assusta mais, é até onde as pessoas chegam em busca da vingança pessoal cujo único objetivo é a destruição da pessoa que desprezou o amor que era tão importante. Não entendo esse prazer mórbido da vingança, como que se depois recolher os pedaços do objeto amado pudesse trazer algum tipo de conforto ao ego.
Nesta semana, acabei sendo envolvido numa rede de ameaças de um caso mal resolvido, em que uma das partes estava no meu Orkut e a outra parte chegou até mim como se eu fosse um concorrente em potencial. De alguma forma, a pessoa conseguiu chegar no meu msn e eu no meio da conversa percebi o que estava acontecendo e coloquei os freios no assunto através de um acordo tático de informações e de retirada do processo. Depois desse rastreamento pessoal realmente me retirei de todo a forma de contato disponível. Detalhe... eu não tinha nada haver com as pessoas ai envolvidas.
Refletindo logo depois, fiquei assustado com a facilidade de rastreamento ao qual estamos expostos na internet, como nossas informações estão facilmente acessíveis e nossa segurança é pífia. Pior ainda é pensar que existem pessoas disponíveis por ai a pensar em formas e maneiras de destruir outras pessoas, seja por amor, seja por vingança.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Autorretrado

Ano novo, nova língua escrita. Confesso que estou muito tenso com o novo horizonte escrito que vem por ai, e agora entendo mais do que nunca meus parentes do século passado que escreviam pharmácia e eu ainda criança, os corrigia no meu jeito de criança CDF. Nesta altura de nossas idades, ver nossa língua sofrendo atualizações pra que toda a comunidade que fala o Português (eu nem sabia que existia essa comunidade), possa escrever da mesma maneira, é um tanto quanto atemorizante.
Fazendo um autorretrato meu, agora com mais tranquilidade durante o voo da minha imaginação, penso que os compadres lusitanos estejam sofrendo mais ainda.... Ouch!
Voltemos e estudemos novamente as regras.... Pelo menos em Portugal, cabo Verde e São Tomé e Príncipe, poderemos nos corresponder igualmente. Tomara que consigamos maior representatividade mundial a partir de agora, uma vez que todo o material gerado em Português, seria o mesmo. Só espero que os lusitanos também concordem.. Santo Google!