sábado, maio 19, 2007

Texto 4 - Segredos inconfessáveis


Cheguei a conclusão de que nós todos temos segredos dos quais não falamos sobre eles nem para a nossa própria sombra, tamanha é a carga de vergonha, medo, arrependimento ou qualquer outro sentimento atrelado a eles. Parece aquela história do saco de batatas (numa metáfora ridícula) em que o saco vai ficando cheio e pesado, e somos obrigados a carregá-lo nas costas durante toda a nossa existência.
Os segredos todos tem sua classificação de ordem vergonhosa, caso contrário não seriam segredos e tampouco teriam a sua necessidade de serem escondidos. Nossas falhas de caráter, nossos desvios de conduta ética, moral, atos premeditados que provocaram certo prazer momentâneo, mas que depois revelaram a verdadeira mediocridade da qual fomos autores. Aqueles de pequenos furtos que nao resultaram em nenhum dano a alguém, o troco não devolvido ao caixa do supermercado que estava desatento, o sexo, o desejo, a luxúria ou qualquer outro dos pecados capitais que são verdadeiros motores que propiciam grandes desastres na condição humana de nossas pessoas. Juramos que aprendemos a lição, mas quando menos esperamos, incorremos novamente naquela falha de nosso sistema operacional levando-nos à mais uma catástrofe psicológica que será armazena no nosso submundo inconsciente e relegado alí a mais profundo esquecimento.... Outro erro.... Cedo ou tarde esse segredo será revirado por algum motivo qualquer, uma lembrança boba, um acontecimento qualquer que vai fazer com que a memória seja revirada e a ferida novamente exposta , nos colocando naqueles 15 segundos de desconforto integral, quando nos acomodamos na cadeira e abaixamos a cabeça, agradecendo a Deus o fato de não termos uma tela de LCD implantada em nossa testa revelando o conteúdo de nossos pensamentos atrapalhados.
Voltamos à nossa condição de humanos, de criaturas pensantes dotadas de livre arbítrio e de escolhas que nos levam a caminhos diferentes, e por mais que tenhamos sido adestrados para agir de maneira correta sob a ótica da ética e justiça, alguma vezes incorremos no erro. Mas.... será realmente um erro? É possível considerar algo como erro, quando sabemos que não está correto sob alguns julgamentos, mas que nos proporciona prazer e bem estar, mesmo que seja por poucos momentos? Será que estamos sendo juizes coerentes quando julgamos um homem que roubou para sobreviver, e que descobriu que tinha sangue frio o suficiente para continuar roubando e mantendo seu prazer arriscado e sua necessidade de adrenalina? Muito simples, sob a ótica de civilização, de viver em sociedade e em conjunto com milhôes de outros humanos, as regras são estabelecidas, e estes que rompem com as regras estao criando suas próprias vergonhas, que para eles, muitas vezes nem se preocupam mais em pensar a este respeito.
Mas voltando a um grau muito menor do que mencionei acima, nossas dores intimas e pessoais haverão de continuar existentes dentro de nós até a nossa morte, ou até que um dia resolvamos abrir de vez nossas comportas da alma e dar vazão a este mar de lama que se acumula em nossos corações. Não existe redenção para segredos inconfessáveis. Aprendemos sim que é muito menos doloroso não tocar mais no assunto e deixá-los alí no cemitério onde foram enclausurados do que enfrentar nosso maior medo: sermos julgados por aqueles que porventura possam estar nos ouvindo naquele momento. O julgamento negativo alheio nunca é agradável, e na grande maioria dos casos, não acredito que venha nos trazer algum tipo de alívio.
Pensei em liberar alguma coisa aqui para ser confessada em esquema mundial, mas na verdade não vou confessar nada. A vergonha continua sendo maior do que a minha coragem.
Voce tem segredos? Legal, mantenha-os assim como segredos. Sua vida, creio que será muito mais facil dessa maneira. Explicar muito provoca confusão mental alheia e julgamento incorreto. É melhor falar sobre o clima ou sobre aquecimento global.....é bem mais elegante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário