terça-feira, maio 08, 2007

Texto 1 - O homem que chorava


O retorno do trabalho é sempre uma aventura mais desgastante do que se imagina, depois de um dia de trabalho cansativo, encarar o meio de transporte até a casa da gente é algo realmente chato. É muito bonito o esquema ecológico de deixar o carro em casa, pois além de saudável é sem duvida nenhuma muito mais econômico, mas que é uma coisa chata, isso é.
Ontem, no meio de tanta gente compactada dentro do ônibus, tava lá o par de olhos verdes do cara.. Mais verdes do que a média, que se destacavam em meio a tantos outros rostos comuns e cansados que tambem voltavam pra casa depois de um dia de trabalho, mas de alguma forma, tinha alguma coisa errada no rosto do homem, que chamava a atenção..... os olhos estavam mais destacados pois estavam vermelhos.
Meu primeiro pensamento foi algo ligado a drogas, mas nao perdurou muito até quando ví a lágrima descer timidamente. Muito rápido, ele enxugou a lágrima com a mão livre enquanto tentava manter o equilíbrio no movimento do ônibus. Confesso que fiquei até com vergonha de meu primeiro pensamento, pois somos condicionados a pensar sempre o pior das pessoas, e ao notar que o homem chorava, e chorava com vergonha tentando impedir as lagrimas em público, e eu, bem em frente nao conseguia parar de olhar.
Meu primeiro ímpeto foi o de perguntar se tudo estava bem e seu eu podia ajudar.. mas me contive. Viver numa cidade grande, a privacidade das pessoas se transforma em anonimato, e uma aproximação pode ser considerado mais abusivo do que se pensa, além do mais, na timidez do homem que tentava segurar as lágrimas, achei melhor respeitar a dor alheia, e não há lugar melhor para se estar sozinho do que no meio da multidão... já chorei em público, e o que eu mais queria era mesmo estar sozinho com minhas lágrimas e minha dor.
Até que ponto estamos sendo insensíveis ou educados demais em achar que nada está acontecendo e ignorar as pessoas ao nosso redor? De repente já nos tenhamos tornado frios demais para interromper o processo e ficarmos apenas como eu fiquei, olhando a cena, que apesar da tristeza que alí havia, tinha sua beleza plástica, fotogênica de se contemplar e refletir.

Um comentário:

  1. Para constar, sou sua leitora "quase" assídua. Fã eterna...rs..
    beijo

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