quinta-feira, julho 13, 2006

Infância escolar

Estive lendo um texto hoje de um colunista em que ele lembra de seu passado escolar, das dificuldades vividas nesse período e das comparações sofridas por ele e seu irmão no mesmo colégio. Curiosamente me fez lembrar tambem de meus tempos de escola, quando a infância era um doce e pegajoso sorvete de morango, e o despontar pra adolescencia trouxe inúmeras dificuldades pra mim. Durante a infância, a escola era pra mim apenas um outro lugar onde eu tinha de ir brincar todo dia, preencher exercícios fáceis, repetir exaustivamente as lições, cantar, pintar desenhos feitos com mimeógrafo que chegavam até suas mãos com cheiro de alcool e até mesmo um pouco úmidos ainda. A vida se traduzia em lapis de cor, estojos de madeira, apontadores e uma ansiedade sem fim pelo som do sinal encerrando as aulas, quando eu corria de volta pra casa pra um almoço muito rápido e em seguir seguir pras ruas do bairro encontrar o resto da turma para brincarmos durante a tarde toda. Eu tinha uma excelente memória, nao precisava estudar na véspera das provas, e tinha notas excelentes, apesar de ter de me sentar na ultima carteira todas as vezes (famigerado fundão) devido à minha altura, sempre em destaque comparando-se com os outros colegas.
Chegou a adolescência, aquela chateação sem fim dos colegas que hoje recebe o nome de bullying, que te incomodavam em todos os míseros detalhes de sua vida. As matérias ficaram mais difíceis, tive de passar a reler as aulas estudadas antes das provas pra manter as notas, continuava tentando ser da paz, mas sempre incomodado pelos outros chatos da classe, nas primeiras formas de luta por poder que se delineiam na adolescência. Essa minha fase foi muito tranquila, sem paranóias, sem riscos, sem perigos, apenas mudanças que foram tranquilas na minha vida e no meu corpo, porém mais radicais na alma. Tive minhas dificuldades com o futebol, então as aulas de educação física eram um verdadeiro tormento, pois além de nao conseguir interagir ou sequer participar do jogo, eu era escolhido por último... ou seja, a sindrome de inferioridade começava logo no começo da aula e ocorria 3 vezes por semana sem falta. Tudo mudou quando fomos apresentados ao volei, e um novo mundo se abriu pra mim. Descobri que eu podia ser bom em alguma coisa nas aulas de educação física. A altura facilitava e a prática constante, mesmo fora das aulas jogando com os amigos, me transformou no astro da escola nessa parte esportiva. Passei a ser sempre o primeiro a ser escolhido, sempre o cara que passava as coordenadas de ataque, a participar das competições inter-escolas, que tinha o saque mais agressivo que o time adversário sempre temia... É, tinha suas compensações.... Cheguei a participar do time da cidade extra oficialmente, mas como ja tinha começado a trabalhar, nao podia ir pros Jogos Regionais.... Depois veio a fase do atletismo, mas isso fica pra outro dia.
Hoje parece que foram fases tão distintas que quase posso sentí-las vibrando em intensidades e cores diferentes. Com seus cheiros respectivos, seus momentos de tensão, amigos que eram tão queridos naquele tempo que quando cresceram se tornaram pessoas horríveis enquanto que outros se revelaram seres notáveis. Alguns que partiram de maneira suave ou até mesmo de maneiras violentas. Analisando a sociedade moderna, vejo que as mudanças foram drásticas e profundas onde o respeito pela figura do professor praticamente desapareceu, talvez sob a lápide de Piaget. Antes, um aluno fodão era aquele que tinha uma caneta trazida de contrabando do Paraguay, péssimas e caras. Hoje, o aluno ostenta celular, MP3 Player e usa lapiseira 0,5, em que os pré-adolescestes já "ficam" com o maior numero possível de parceiros, onde a idade mínima da primeira experiência sexual caiu, os casos de gravidez acidental aumentaram e a violência estende suas unhas através das comunidades das minorias discriminadas que se juntam e tocam o terror nas comunidades, com golpes de violência e ônibus queimados, prejudicando a população e a si próprios nesse ciclo auto-destrutivo. Resultado disso? Cadeias superlotadas e destruídas, presos amontoados como animais num circo dos horrores. Quando me perguntam do que eu mais tenho medo, minha resposta ainda é a mesma.... do futuro.
 
ps. Ainda sou um incorrigível otimista.
 
 
 

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